Agronegócio só ganha com maior uso de calcário
Apesar da maior parte dos solos brasileiros serem ácidos, apenas 40% dos produtores agrícolas brasileiros, em geral, conhecem a necessidade da correção da acidez. A informação é da Associação Brasileira dos Produtores de Cal (Abracal), a entidade que congrega a cadeia de produção do mineral para aplicação agrícola.
A estimativa é que o agronegócio do Brasil necessite de 80 milhões de toneladas de calcário por ano. Porém, o consumo nacional ficou na casa dos 54 milhões de toneladas em 2021. De acordo com a entidade, em razão do conflito na Ucrânia, o fornecimento mundial de fertilizantes apresenta problemas.
Sem corrigir a acidez do solo, os fertilizantes – que apresentam preços em dólar – têm a atuação comprometida, aumentando ainda mais o problema dos solos ácidos.
Não falta calcário agrícola
Se o uso do mineral ainda está aquém do potencial, não é culpa da oferta. Tecnicamente, as reservas de calcário agrícola estão incluídas nas reservas de calcário como um todo. De acordo com a ANM, o Brasil tem reservas medidas, indicadas e inferidas da ordem de 100 bilhões de toneladas.
E mais: se o calcário for usado na produção de corretivo de solos, o produtor pode se utilizar do regime de licenciamento, ou seja, não são necessários trabalhos prévios de pesquisa. A lavra, dessa forma, pode ser imediata. Em 2021 (dado mais recente) o Brasil produziu 54,5 milhões de toneladas de calcário agrícola.
Como é feito e quem produz o calcário
Somente o Acre e o Amapá não produzem calcário agrícola, de acordo com a Abracal. Em geral, a produção é consumida dentro de cada estado. É o caso do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul. Dez estados se destacam na produção, o que inclui os quatro do Centro-Oeste, os três estados do Sul e mais São Paulo, Minas Gerais e Bahia.
Os dados de 2021, compilados em abril de 2022, mostram que eles respondem por 88,8% da produção nacional. O maior produtor nacional é o Mato Grosso, com 10,9 milhões de toneladas, praticamente um quinto do total nacional. O Paraná, com 8,1 milhão de toneladas, é o segundo maior.
Por que consumir mais calcário
Se o agronegócio brasileiro consumisse 90 milhões de toneladas de calcário agrícola por ano, a produtividade poderia ser ampliada em 60% sem precisar de novas áreas. A afirmação é da Abracal e há explicações científicas para o incremento.
A calagem eleva o pH e o fornecimento de cálcio e magnésio, além de reduzir os efeitos tóxicos do alumínio, ferro e manganês. Dentre a importância do calcário, o uso da cal também potencializa outros minerais como enxofre e potássio, entre outros. A calagem torna ainda o solo mais agregado, reduzindo efeitos da erosão.
Plantas ganham com o calcário
Dependendo do tipo de calcário agrícola (dolomítico e calcítico), a calagem fornece cálcio (Ca) e magnésio (Mg) para as plantas. E mais: o uso do mineral aumenta - em tamanho e volume - o sistema radicular das plantas.
No caso de terras baixas (várzeas), na cultura do arroz irrigado, ele também neutraliza os teores de ferro (Fe) e manganês (Mn), igualmente tóxicos para as plantas segundo a Abracal. E mais ainda: o calcário agrícola aumenta a eficiência das adubações e aumenta a produtividade das culturas.
Utilização do calcário
De acordo com a ANM, todas as rochas carbonáticas compostas predominantemente por carbonato de cálcio e/ou carbonato de cálcio e magnésio podem ser usados na correção da acidez dos solos.
Em outras palavras: calcários, dolomitos e mármores, entre outros, são fonte para a calagem. E independente da relação de óxido de cálcio e óxido de magnésio. No Brasil, geologicamente, as reservas estão distribuídas em praticamente todos os estados e representam centenas de anos de produção nos níveis atuais.
Adubar em solo ácido é jogar dinheiro fora
De acordo com a Abracal, dependendo do grau de acidez de um solo, adubá-lo pode significar jogar dinheiro fora. Um exemplo prático: aplicando 100 Kg/ha da fórmula (04 – 14 – 08) (N – P – K) a perda pode chegar a 70 Kg/ha, ou seja, 70% deste adubo é perdido, sendo somente 30% do adubo aplicado aproveitado pelas plantas. A consequência é a baixa produtividade.