A novidade da CBL é a compra de 33% de suas ações pelo governo estadual de Minas Gerais. A negociação, anunciada em abril de 2018, foi realizada por meio da Codemig Participações (Codepar). É importante destacar que a mesma Codepar tem participação em outra fase da cadeia do lítio, a produção de células de baterias de lítio-enxofre (Li-S). Explicando: a empresa estatal tem 10% do capital da companhia britânica Oxis Energy, cuja subsidiária Oxis Brasil deve instalar uma fábrica na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A triangulação foca no mercado de armazenamento de energia para projetos de geração sustentável.
Um dos desdobramentos do novo mapa do lítio no Brasil acontece justamente ao lado da CBL. Trata-se do Projeto Lítio, assumido em outubro desse ano pela canadense Emerita Resources Corp. Anteriormente de propriedade da Falcon Lítio MG, o projeto está distante 500 metros do depósito explorado pela CBL. Na avaliação oficial da Emerita, “a proximidade e as evidências geológicas observadas no campo dão grande respaldo aos investimentos que serão feitos em mapeamento, amostragem e perfuração”.
“O foco da empresa continua sendo em projetos de metais básicos, caso de Salobro, para produção de zinco, também em Minas Gerais, mas essa é uma oportunidade excepcional para agregar valor a um baixo custo”, disse David Gower, CEO da Emerita, em nota oficial da companhia emitida em 09 de outubro de 2018. Com projetos na Espanha e Brasil, a Emerita tem equipe técnica e escritório em Sevilha e Belo Horizonte e escritório administrativo em Toronto, no Canadá.
Vale do Jequitinhonha tem vários projetos avançados de produção
Um pouco mais avançada é a atuação da tradicional AMG Mineração, subsidiária da holandesa Advanced Metallurgical Group. Segundo reportagem de maio de 2018 do jornal O Tempo, de Belo Horizonte, a empresa estaria investindo R$ 650 milhões em duas fases de seu projeto de produção de lítio. Localizado em Minas Gerais, o empreendimento teria 23 milhões de toneladas remanescentes da rocha multiminerálica pegmatito. Ainda de acordo com o jornal, a mineradora teria ativado (em maio) a primeira fase da planta de produção de concentrado de espudomênio, com capacidade nominal para 90 mil toneladas.
A segunda fase do projeto da AMG é avançar para um patamar de 180 mil toneladas de concentrado de espudomênio até 2020, com sinalização de contrato com parceiro chinês. Já a terceira etapa envolveria justamente a construção de planta de processamento químico, com a transformação do concentrado de espudomênio em carbonato ou hidróxido de lítio. Ou ambos, de acordo com a demanda de mercado. Os dados são da mesma reportagem de O Tempo.
O desdobramento da corrida pelo lítio inclui vários projetos. É o caso da Sigma Lithium Resources Corporation. De acordo com a edição online da revista Brasil Mineral, de 01 novembro de 2018, a empresa teria remetido “amostras de concentrado de lítio de alta qualidade com uma classificação média de 6,27% de Li2O e um tamanho de 9,3 mm para potenciais parceiros off-take de longo prazo na Ásia para validação”. A empresa já teria encomendado sua planta de produção fase 1 para produzir um concentrado de espodumênio. Modular, a unidade teria uma expectativa de produção inicial estimada em 12 mil toneladas anuais de concentrado.
A Brazil Minerals (BMIX) Inc é outro potencial player da produção de lítio, mas em outra etapa do processo. A notícia mais recente (outubro de 2018) é de que a empresa obteve a permissão para explorar seu projeto Lítio de 288 acres na região de Salinas, no estado de Minas Gerais. Com a nova fase do projeto, a BMIX continuará a campanha de estudo do solo que pretende concluir no primeiro trimestre de 2019, conforme nota da edição online da revista Brasil Mineral.
Projetos envolvem até outros minerais como o nióbio
Outra iniciativa é da Elektro Lithium Mining que, segundo o site Notícias de Mineração, começou os trabalhos de exploração de lítio na região do Vale do Jequitinhonha em outubro de 2018. O projeto tem a coordenação do geólogo João Carlos Cavalcanti, responsável pela descoberta da nova Província Mineral da Bahia. Ainda de acordo com a publicação, ele é o principal acionista da World Mineral Resources (WMR), empresa criada em 2010, e se associou a um fundo de investimento para criar a Elektro Lithium.
Em um caminho diferenciado, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), a Toshiba Infrastructure Systems & Solutions Corporation e a Sojitz Corporation firmaram parceria para desenvolver baterias de lítio com anodos de óxidos mistos de nióbio e titânio (ONT). O contrato assinado entre CBMM e Toshiba prevê investimento de U$ 7,2 milhões para a construção de uma linha de produção piloto para uma nova geração de baterias que se caracterizam pela alta densidade energética e recarga ultrarápida, duas demandas atuais da indústria automotiva diante da procura crescente por veículos elétricos que usam baterias recarregáveis.
As informações são da própria CBMM, que destaca que a “presença do nióbio nas baterias de lítio dá maior segurança e durabilidade, pois a bateria poderá estocar o dobro do volume de lítio em relação às baterias convencionais que utilizam ânodos com grafite”. Segundo nota oficial, a CBMM tem como principal objetivo aproveitar todas as potencialidades do nióbio para expandir seu mercado mundial. E o “casamento” com o lítio parece ter uma vida longa na avaliação da mineradora.
A parceria entre as três partes inicia a produção das novas baterias em pequena escala, sendo esta a última etapa do desenvolvimento tecnológico antes da produção em escala industrial. Neste projeto, a Toshiba também tem a intenção de estabelecer uma rede de suprimento de materiais e iniciar a comercialização dessa nova geração de baterias no começo do ano de 2020. Ou seja, o avanço do lítio no Brasil não acontece sozinho.
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