Ronald Diáz: É muito importante estarmos sempre atentos a essas mudanças que ocorrem em nossa região e áreas de influência. E não somente por questões políticas, mas também pelas questões da pandemia. Por isso, a Gold Fields está priorizando algumas áreas e setores que beneficiem as comunidades e a sustentabilidade. Os assuntos relacionados à saúde e à água são muito importantes, assim como a gestão de resíduos. Focando nesses três temas, acredito que nesses momentos difíceis que estamos vivendo, estamos fortalecendo nosso sistema de gestão como um todo.
Eija Rotinen: Acredito que esses tópicos são de extrema importância para todos os setores e sociedades. É preciso que todos nós entendamos a fundo que o único futuro possível para todos é a economia circular. Ela é sustentável, socialmente responsável e gera governança. Quanto antes sairmos da economia linear, melhor. Qualquer setor compreende o valor dos investimentos que levam à sustentabilidade. A mineração tem sido um setor muito criticado por gerar danos ao meio ambiente.
Sem dúvida, ao longo dos séculos, ocorreram muitos acidentes que geraram contaminação de cursos d’água e do subsolo e que causaram mortes. No entanto, a mineração é um setor primordial para a humanidade, portanto, encerrar as operações não é uma opção. As mineradoras têm feito muitos esforços para melhorar a sustentabilidade em suas operações. Porém, ainda há muito a ser melhorado, em investimentos, tratamento de águas, manejo de resíduos, uso de energias renováveis, recuperação dos solos nas regiões de mineração e segurança dos funcionários, para citar alguns exemplos.
Se o uso posterior do local, após o fechamento da mina e do término da atividade mineradora, for bem planejado, é possível criar um ambiente que atenda algumas das necessidades criativas das comunidades ao redor.
O conceito de mineração verde foi criado na Finlândia e criou-se uma rede chamada “responsabilidade na mineração”. Esse conceito une diferentes agentes relacionados ao setor de mineração, dos setores privado e público e de cunho ambiental, para planejar e desenvolver ferramentas que facilitem o desenvolvimento sustentável da indústria.
Rolf Fuchs: Obrigado pela excelente pergunta. Essa questão é crucial e fundamental neste momento em diversos setores da economia e muito presente na mineração. Tenha em mente que este não é um processo novo. O principal ponto conhecido começou em 2003 com a adoção dos Princípios do Equador.
Hoje, isso já está mais estabelecido e presente em todo o universo financeiro exigindo o cumprimento dos processos de governança social, financeira e ambiental. Mas devemos lembrar que no setor de mineração existem empresas de todos os portes, desde os grandes players globais até as pequenas empresas, que são a maioria. Cada um deles possui processos e recursos diferentes para se adaptar a novas formas de trabalho. Portanto, não é um processo rápido, é algo que ainda levará tempo, mas as mudanças são uma realidade. Os dois infelizes episódios de grandes barragens que tivemos no Brasil (tivemos também outras menores, assim como outras ao redor do mundo) deram muito impulso ao debate no Brasil, pois a reputação da mineração estava seriamente comprometida. Então, agora, o setor de mineração percebeu que precisa mudar sua posição e sua atitude.
Existe uma consultoria global que faz um levantamento sobre os maiores desafios e riscos para a mineração e, há 5 anos, a gestão socioambiental é o maior desafio, na opinião da maioria dos 500 grandes executivos de mineração entrevistados.
Assim, as mudanças vieram para ficar e quem não se adaptar vai perder dinheiro ou até mesmo o próprio negócio, a empresa.