O lítio é um metal singular. Presente em depósitos minerais ou em salmouras, ele é a matéria prima para as baterias de equipamentos eletrônicos e veículos elétricos. Mas, embora seja encontrado ao redor do mundo, nem todo depósito ou salmoura é comercialmente viável: muitos são pequenos e outros não possuem alta concentração de lítio.
Novas fronteiras, porém, começam a ser abertas, inclusive em áreas com pouca tradição na produção do metal. A corrida pelo suprimento é estratégica: o mercado de baterias de íons de lítio cresce a uma taxa anual de 18,7%, segundo a Reuters. Mas qual é o ponto de partida para a busca do chamado petróleo branco?
Na verdade são dois. O primeiro deles é a exploração dos depósitos minerais, caso das rochas pegmatíticas que hospedam, por assim dizer, os minérios de lítio, entre eles o espodumênio.
É o caso do Vale do Lítio, na província da Austrália Ocidental (Western Australia), cuja sétima mina, produzindo o concentrado de lítio na forma de espodumênio, foi inaugurada no começo de setembro de 2018. A região, segundo reportagem publicada em abril desse ano no jornal The Sidney Morning Herald, trabalha para suprir metade do consumo mundial de lítio. O mesmo tipo de depósito ocorre no Brasil.
A segunda fonte de exploração do lítio são as salmouras, com destaque para três países da América do Sul – Argentina, Bolívia e Chile. A Bolívia ainda é uma incógnita, pois tem grandes reservas e tem planos de explorá-las com um parceiro internacional. O Chile ocupa a segunda posição como maior produtor mundial de lítio depois da Austrália.
Dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), que é referência mundial, mostram que os chilenos responderam por 32,8% do volume de lítio entregue ao mercado em 2017, enquanto a Argentina teria produzido 13,5%. Só para efeito de comparação: os australianos, no mesmo período, produziram 43% do volume e, de acordo com as últimas informações caminham para os 50%.
Identificação de novos depósitos passa até pelo uso de satélites
O Chile ilustra bem a diferença entre reservas e produção. De acordo com o USGS, o país teria 52% das reservas mundiais (excetuando-se a Bolívia), mas ocupam a vice-liderança na produção. A Argentina, por sua vez, deteria 13,8% das reservas mundiais conhecidas.
Nos dois casos estamos falando do potencial de lítio contido em salmouras. A Austrália, com 11% das reservas mundiais, é hoje um dos principais protagonistas da exploração mineral do petróleo branco. Com relação às minas de lítio no Brasil, por sua vez, é outro player que começa a aparecer: suas reservas foram atualizadas de 0,6% (apontadas pelo USGS) para 8% do total mundial, a partir do recente mapeamento do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a correspondente local do USGS.
Mesmo o Reino Unido, um país com grande tradição mineral, mas sem histórico destacado na produção de lítio, entrou na arena. Segundo a revista The Economist, o alvo é a região de Cornwall e a alta tecnologia, com uso de satélite, é a nova fonte de pesquisa da possível presença de depósitos minerais de lítio.
O caso do Zimbabwe entra em outro patamar: o país africano está entre os dez maiores produtores mundiais, segundo o site Mining.com, e almeja produzir 10% do metal nos próximos quatro anos. O objetivo vai depender, é claro, de questões políticas. A geoestratégia também envolve uma provável associação entre a Bolívia, com grandes reservas na forma de salmoura, e a Índia, com a demanda do metal.