Segundo a KPMG, quase 90% das empresas de mineração que atuam no Brasil têm planos bem estabelecidos de descarbonização, rumando a se tornarem net zero carbon até 2050. Com isso, elas estão alinhadas ao que as principais cadeias produtivas do mundo devem pactuar durante a Cúpula Climática de 2020, adiada para este ano (COP-26) e prevista para ocorrer em novembro, na cidade de Glasgow, Escócia.
Já a siderurgia ampliou olhares para as políticas ambientais, sociais e de governança (ESG) com a iminência de uma taxação de carbono, anunciada pela União Europeia em julho. Em suma, o bloco das principais economias do velho mundo discute impor uma taxa sobre produtos importados que não apresentem os mesmos níveis de descarbonização que os das fábricas europeias. A proposta ainda está em trâmite de avaliação no Parlamento Europeu, mas, se aprovada, a siderurgia é um dos setores que figura na lista.
Sob esse cenário, grandes mineradoras e siderúrgicas brasileiras têm se adiantado e lideram ações ESG. O tema foi debatido durante a 9ª Conferência de Energia e Recursos Naturais na América Latina, realizado pela KPMG em meados de setembro.
Vale e Ternium confirmam transição energética
Em um painel dedicado, Juliana Marreco, analista sênior de Investimentos em Energia da Vale, afirmou que a mineradora busca a liderança na mineração de baixo carbono e, para isso, atua fortemente na descarbonização da sua cadeia de suprimentos, onde há alto potencial de emissão de gases de efeito estufa tanto no processo mineral em si, quanto nos transportes e no uso da matéria-prima nos clientes.
Por isso a Vale põe em prática um processo de migração para novas fontes de energia. Segundo Juliana, a mineradora investe atualmente no uso de biomassa, mas já vislumbra o hidrogênio verde. “A expectativa é que, até 2030, já tenhamos uso de hidrogênio por eletrólise”, diz.
Enquanto o hidrogênio verde não decola para a produção em massa, a siderúrgica Ternium trabalha em um plano de transição energética na casa dos US$ 500 milhões e tem no gás natural um dos seus pilares. “Buscamos ampliar o uso de gás natural em detrimento do carvão, de acordo com o avanço do mercado de gás, que foi novamente regulado há pouco tempo”, diz Marcos Buarque, gerente da área de Negócios de Energia da Ternium. “Atualmente, 20% do gás natural utilizado pela Ternium é biometano, vindo diretamente de aterros sanitários do Rio de Janeiro, onde fica a fábrica da empresa, e isso é extremamente importante para os índices de produção do aço verde”, completa.
Uso de água
Novo processo pode descontaminar rejeitos com custos mais baixos
Um novo processo para tratamento de águas residuais está em desenvolvimento no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e de acordo com o site Mining.com, o método poderá ser aplicado à mineração para permitir o descarte adequado ou a reutilização dos rejeitos da mina.
Os pesquisadores Huanhuan Tian, Mohammed Alkhadra, Kameron Conforti e Martin Bazant afirmaram em artigo científico que seu método de tratamento pode separar metais de água contaminada, o que permitiria até mesmo o uso de metais na produção de itens de alto valor, como semicondutores e produtos farmacêuticos.
O método desenvolvido pela equipe de cientistas visa à extração de metais pesados, como o chumbo, da água de rejeitos. Isso seria alcançado por meio de uma eletrodiálise de choque. Um campo elétrico produz uma onda de choque dentro de um material poroso eletricamente carregado, que armazena água contaminada. Conforme a tensão é aumentada, a onda de choque se propaga de um lado do material para o outro, deixando uma área onde os íons metálicos são depositados a cada passagem. Segundo os pesquisadores, o sistema permite uma redução de até 95% nos volumes de chumbo na água contaminada.
Custos menores
“Isso torna o processo muito mais barato (em comparação aos métodos convencionais) porque a energia elétrica que você coloca na separação vai mesmo para o objeto de maior valor, que é o chumbo. Você não está desperdiçando uma tonelada de energia separando o sódio. E como o chumbo está presente em baixas concentrações, não é preciso lidar com uma corrente muito longa para remover seus íons, o que torna esse método um custo-benefício positivo”, diz Martin Bazant.
Como na água potável há uma concentração de sódio em torno de décimos de parte por milhão, enquanto o chumbo pode ser tóxico, embora em uma concentração de algumas partes por bilhão, os processos usuais como osmose e destilação o removem completamente. Assim, a remoção seletiva de chumbo e outros minerais pesados poderia contribuir para a manutenção de elementos essenciais na água potável sem o risco de deixar contaminantes.
O processo é demonstrado em escala de laboratório e com baixas taxas de fluxo contaminado. Os pesquisadores dizem que mais testes são necessários antes que sua aplicação possa ser ampliada até que a indústria de mineração possa aplicá-la.
Economia circular
Como a economia circular pode contribuir para a mineração sustentável
A chamada economia circular já entrou no mundo da mineração. Seu princípio é que a parte final de um determinado processo produtivo pode ter um novo começo, evitando assim o desperdício de materiais e recursos. Reutilizar, reciclar e recondicionar são os meios pelos quais o ciclo de uma produção industrial gera recursos para novos ciclos. O resultado geralmente é uma redução significativa dos impactos ambientais.
Na mineração existem muitas portas de entrada para a economia circular. Partindo dos princípios, é preciso lembrar que a mineração trabalha com materiais com potencial infinito de reciclagem, caso dos minerais metálicos. Além disso, os metais têm por sua propriedade natural alta durabilidade, resistência e anticorrosividade. Com essas características, existem incentivos econômicos reais para o reaproveitamento de metais em novos processos produtivos.
Criatividade
Mas é preciso ser mais criativo ao pensar na aplicação do conceito de economia circular na mineração. De certa forma, a intensa pegada ambiental da mineração tradicional cria uma grande oportunidade para entregarmos excelentes resultados em termos de redução.
Hoje, a mineração fornece resíduos para outros processos. Rochas residuais, por exemplo, são usadas como agregados para construção de estradas e projetos paisagísticos. Rejeitos de tratamento ácido de rocha (com alto teor de ferro) podem servir como pigmentos. E outros mais subprodutos dos processos de mineração podem entrar como materiais nobres na produção de cimento, cerâmica, resinas, vidro, entre muitas outras aplicações.
A pergunta que devemos nos fazer é: até onde podemos ir? Do Japão, surgem novas ideias que podem inspirar toda a mineração. A Mitsubishi Materials está adotando um modelo de negócio voltado para a reciclagem em todas as suas operações, de acordo com o site Miningwithprinciples (https://miningwithprinciples.com/the-circular-economy-in-mining-and-metals/).
A empresa está renovando suas tecnologias de fundição para dar solução à geração de resíduos em todas as suas atividades, desde potes de alumínio até peças de eletrodomésticos. Em seus processos industriais, a Mitsubishi Materials está recuperando matérias-primas para fundi-las e reunir a produção. O pó de clínquer é coletado de suas fábricas de cimento para derretê-lo com cálcio e matéria-prima auxiliar, resultando na escória de cobre que se torna matéria-prima para outros processos produtivos.
Uma importante fonte de ideias para a economia de mineração circular é a chamada “mina urbana”, atualmente composta principalmente por lixo eletrônico. Cobre, tungstênio, prata, lítio e muitos outros minerais nobres existem em abundância nos milhares de telefones e circuitos descartados todos os anos em todo o mundo. É preciso inventar maneiras de recuperar esses materiais.
Eficiencia energética
A transição energética na mineração rumo à energia verde
Atualmente, a maioria dos países (incluindo o Brasil) depende dos combustíveis fósseis, em diferentes porcentagens, para geração de energia em várias atividades econômicas. No entanto, esses combustíveis não são renováveis e contrastam com os muitos tipos de recursos de energia renovável – como a energia eólica e solar – constantemente reabastecidos e nunca se esgotam.
Energia renovável pode ser definida como aquela obtida de fontes naturais capazes de se regenerar e, portanto, virtualmente inesgotáveis. Entre os tipos de energias renováveis estão: energia eólica (obtida do vento); energia solar (obtida do sol); energia hidráulica ou hidroelétrica (energia obtida de rios e outras correntes de água doce); biomassa e biogás (extraída de material orgânico); energia geotérmica (energia térmica de dentro da Terra); energia maremotriz (obtida das marés); energia do hidrogênio (obtida da combinação do hidrogênio com o oxigênio).
Historicamente, o mercado de mineração convive com o grande desafio de reduzir ou controlar o consumo de energia, item que representa em torno de 10% dos gastos médios totais da atividade – variando em função do tipo de mina e se está conectada ou não à rede elétrica.
A atividade extrai energia de gás natural, diesel, eletricidade, carvão e outros óleos. Considerando todos os energéticos, os maiores consumos são eletricidade e diesel. Porém, se levarmos em conta que as minas estão instaladas em regiões carentes de infraestruturas elétricas e com graves dificuldades para um fornecimento adequado de energia elétrica, bem como escassa disponibilidade de engenharia e de expertise elétricas, as mineradoras têm no diesel a sua principal fonte de energia operacional, convertendo a atividade mineira em grande contaminadora do meio ambiente.
O crescimento da atividade de mineração impõe uma constante ampliação da capacidade de geração de energia, exigindo, portanto, de uma grande rapidez de resposta para aumentar a capacidade, bem como a geração de alta disponibilidade e redundância.
Por isso, a implementação de fontes de energia renovável ganha cada vez mais espaço na mineração, apesar de a maioria das empresas ainda ser movida por combustíveis fósseis tradicionais. Segundo uma estimativa da Agência Internacional de Energia (AIE), a indústria extrativista é um dos setores que mais consome energia. No total, são 11% do consumo final atribuídos à mineração.
Mas como ampliar a atividade econômica do setor sem agredir ao meio ambiente e as comunidades ao retor das minas? Especialistas respondem a estas questões com a composição de uma matriz energética híbrida, incluindo energias renováveis. Segundo eles, estas soluções híbridas permitem oferecer energia e garantir potência em lugares que não têm acesso ou apresentam problemas com a rede elétrica.
O diferencial das soluções híbridas consiste no aproveitamento dos recursos energéticos disponíveis no local para proporcionar uma energia sustentável, segura e a um custo acessível, através da integração de diferentes tecnologias de geração de energia: solar, eólica, biomassa, hídrica (PCH), diesel e baterias.
A defesa é que as soluções híbridas de energias renováveis proporcionam um fornecimento de energia constante, seguro e mais limpo, sendo a geração controlada pela própria mina.
Além disto, estas soluções permitem a redução da Pegada de Carbono no produto final comercializado pela mineradora, bem como da emissão dos gases de efeito estufa, permitindo melhorar a imagem da mineradora junto da população com que interagem.
E por fim, quando encerrada a atividade da mineradora, as usinas híbridas de energias renováveis podem ser cedidas para as populações locais, para obter energia a um custo quase zero.
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, em alguns países, a indústria de energia renovável atingiu o chamado ponto de inflexão. Isso significa que ela custa o mesmo – ou até menos – do que as fontes poluentes.
A estimativa é que no setor de mineração o investimento em energia renovável pode chegar à casa dos US$ 4 bilhões para os próximos três anos.
Saúde & Segurança
EUA terão novas regras para mineração de superfície
A segurança do trabalho relacionada ao uso de equipamentos motorizados será reforçada
A Administração de Segurança e Saúde Ocupacional de Mineração (MSHA) dos Estados Unidos anunciou a proposta de um novo padrão para empresas de mineração com seis ou mais trabalhadores. A norma afetará a situação das áreas de mineração de superfície e de mineração subterrânea.
De acordo com o site IM Mining, a agência MSHA quer determinar se as empresas têm um guia de segurança escrito para o manuseio de equipamentos móveis e veículos que trabalham na nos locais de mineração de superfície. A intenção é que a empresa identifique os riscos associados ao uso desses equipamentos, como caminhões de mineração, tratores sobre esteiras, carregadeiras frontais, escavadeiras e outros. O padrão não inclui sistemas de transporte de correia.
De acordo com a entidade oficial do governo dos Estados Unidos, “embora os acidentes em minas estejam em declínio, os problemas envolvendo equipamentos móveis motorizados ainda são a principal causa de fatalidades na mineração no país. De todas as 739 fatalidades ocorridas em minas nos Estados Unidos entre 2003 e 2018, 109 foram causadas por riscos relacionados a obras próximas ou à mesma operação desse equipamento, em minas com seis ou mais trabalhadores”.
Participação
O setor teve a oportunidade de comentar a iniciativa. Embora um bom número de representantes concorde que a adoção de melhores tecnologias de segurança é um objetivo a ser alcançado, por outro lado, muita ênfase foi colocada no fato de que cada mina possui particularidades e, portanto, seria de crucial importância entender quais riscos específicos em cada local de trabalho podem ser reduzidos com cada opção de tecnologia.
O órgão público concordou que as mineradoras redigam seus novos regulamentos de segurança adaptando-os à sua realidade específica. Isso reduz a oportunidade de estresse entre os operadores da mina e o órgão regulador. Os planos de segurança do trabalho deverão conter ações para identificar e reduzir os riscos relacionados aos equipamentos, devendo ser avaliados e atualizados periodicamente.