Giorgio de Tomi: O setor de mineração passou por diversas mudanças nesse período de pandemia, tanto no comportamento quanto nos relacionamentos. Uma mudança importante foi a introdução do trabalho remoto nas operações de mineração. Não me refiro necessariamente ao home office, mas principalmente remoto, na frente de mineração, o trabalho remoto nas frentes de atendimento. Temos alguns exemplos como a popularização do trabalho em centros integrados de operações e o próprio exemplo da Metso Outotec, o centro de desempenho, junto com todos os centros integrados de operações das grandes empresas. Isso mostra que muitos trabalhos de mineração podem ser feitos remotamente.
Outro exemplo é o avanço em relação a serviços de manutenção de equipamentos, onde os gerentes de manutenção da mina podem trabalhar de forma integrada e remota com especialistas de diferentes partes dos componentes dos equipamentos, trabalhando de forma síncrona, mas remotamente.
Por fim, um aspecto que eu gostaria de chamar atenção: houve resistência por parte das mineradoras, em alguns casos, em usar o compartilhamento de arquivos na nuvem, mas durante a pandemia essas limitações foram superadas e hoje essa forma de compartilhamento é utilizada diariamente.
Então, na minha opinião, essas mudanças farão diferença na indústria de mineração.
Roque Benavides: Acredito que a onda digital chegou mais cedo no mundo. Já não estamos mais discutindo se haverá ou não revolução digital. A pandemia fez com que adquiríssemos hábitos que permanecerão. Definitivamente, para nós que trabalhamos na indústria da mineração, na qual as unidades de mineração ficam tão isoladas, especialmente no Peru, nas regiões altas dos Andes, a comunicação digital contribui para que possamos ficar bem mais próximos entre nós, mesmo que possa parecer impossível.
Hoje, as comunicações, inclusive os monitores utilizados, nos ajudam a acompanhar as operações e conseguir manter a eficiência. Acredito que a sustentabilidade citada pela ONU também fica mais clara, em termos de cuidar do meio ambiente, permanecer mais próximo das comunidades para o desenvolvimento social. E, sem dúvida, tudo isso leva a uma maior eficiência.
Acredito que a Era Digital chegou mais cedo devido à crise gerada pela pandemia que enfrentamos no Peru, e também em outros países, com a perda de muitas vidas. No entanto, ficou uma lição, e deveremos levá-la conosco. Acredito que os drones, o monitoramento à distância, os veículos autônomos chegarão bem mais cedo do que imaginávamos.
Acredito que houve um impulso para que passássemos a utilizar todas essas ferramentas digitais, tudo graças à pandemia.
Joaquín Villarino: Acredito que nosso maior desafio hoje esteja ligado a uma forma de trabalhar diferente do que fazíamos até então. A pandemia impôs, de certa forma, a obrigação de trabalhar com menos pessoas por maiores períodos. Isso demonstrou, primeiramente, que é preciso haver uma profunda cultura de cuidado e segurança dentro da indústria, pois essa indústria continuou trabalhando durante toda a pandemia. Na verdade, a produção em 2020 foi praticamente a mesma daquela registrada em 2019, apesar das reduções de pessoas que podiam estar nos espaços de mineração.
Isso também acelerou alguns processos que já estavam sendo desenvolvidos no setor. Esses processos estão vinculados à automação na indústria, a incorporação de novas tecnologias, o trabalho remoto, o fortalecimento dos Centros Integrados de Operação. Tudo isso demonstrou algumas coisas. A primeira é que se trata de uma indústria bem tecnológica, depois é o enorme desafio que temos em busca de novas competências para os nossos funcionários e, por fim, a grande oportunidade que se abriu para que mulheres e jovens possam se integrar a essa indústria, setor no qual enfrentamos grandes desafios.
Tudo isso porque teremos regimes de trabalho diferentes, pessoas trabalhando em locais mais distantes da mineração. Algo que fará com que alteremos os turnos convencionais por sistemas de trabalho mais favoráveis à rotina familiar e que, portanto, permitam que os jovens e as mulheres façam parte da equipe. Esse é um dos grandes desafios enfrentados pelo setor.
Portanto, uma indústria segura, que oferece bons postos de trabalho, que enfrenta as adversidades e segue desenvolvendo-se, que está incorporando mais tecnologias, maior velocidade para enfrentar os grandes desafios que o século 21 está trazendo para a indústria.